quinta-feira, 23 de janeiro de 2020


Natal… em paz
Mais um dia … acordei de um sono que parecia não acabar, as memórias andavam a vaguear pela minha cabeça, tinha a sensação que passara algum tempo porém, não sabia quanto.
Passava a maior parte do tempo no meu quarto, as horas sucediam-se lentamente, mas quando elas chegavam o tempo congelava. Diziam ser minha filha e minha neta, mas isso era impossível, pois recordava-me perfeitamente da minha filha. Uma menina com pouco mais de 1,20m, com longos cabelos dourados, a mais bela criança que eu já vira em toda a minha vida, tal como a pequena menina que alegava ser minha neta. Já a adulta tinha um ar frio, uns curtos cabelos escuros que lhe tapavam a cara triste. Levaram-me para o carro, mas não percebera porquê.
     -Mãe, sabe o que se passa? - perguntou-me a triste mulher.
Tinha receio de responder, estava perdida…
     -É Natal, vó!- disse a pequenina.
Não sabia o que dizer, tudo me parecia estranho, comecei a entrar em pânico, saí do carro, precisava de apanhar ar. Ouvia o murmurar das duas ao longe.
     - Filha, a avó não está muito bem. – disse a mais velha.
     -Porquê? Ela só parece confusa. - questionou a menina.
     - Os médicos dizem que a avó sofre de uma doença chamada Alzheimer, que a faz esquecer de muita coisa, é por isso que ela não nos reconhece.
     Agora tudo fazia mais sentido, entrei no carro e continuamos o nosso caminho.
Paramos em frente a uma grande casa que me era familiar. Quando entrei tudo parecia estar no lugar certo. A minha filha conduziu-me a um quarto e lá adormeci.
     Acordei… Desci as escadas e vi-os a todos, reconheci cada cara. Estava feliz, encontrara a minha família no dia de Natal, melhor presente não poderia receber. Tudo parecia perfeito, a noite passara lindamente… Planeáramos mil e uma viagens, agora que me livrara do mal da doença, mas eu sabia que não duraria para sempre, e parece que estava certa…
À meia-noite do dia 24 de dezembro, o mal que aguentei por muitos anos e outras complicações mataram-me.
Por muito penosa que tenha sido a minha morte, não posso dizer que morri infeliz, pois no momento em que parti estava rodeada por quem mais eu amava e preferi esta morte do que anos sem me lembrar de nada ou ninguém.








Ana Lúcia Torres, nº1
Diana Silva, nº 6
Pedro Pereira, nº16
 
    

Sem comentários:

Enviar um comentário